Esquerda ou Direita?
Durante os recentes protestos que ocorreram no país, eu me vi em uma posição interessante: alguns amigos me chamaram de “reaça”, outros de “esquerdista”, dependendo de suas respectivas fidelidades políticas.
Pessoalmente eu já me disse de esquerda — eu votava no PT nos anos 90 — e já me disse de centro-direita — eu “votei”[1] no PSDB nos anos 2000 — e hoje não sei exatamente onde estou.
O problema do eixo direita-esquerda é que ele normalmente parece misturar algumas coisas que não são realmente tão ligadas. Deveria haver um eixo “social” e um eixo “econômico” independentes, mas em geral se mete tudo junto, misturado.
Do lado normalmente chamado de “esquerda”, eu:
- Sou a favor de saúde gratuíta universal. Chego até a considerar que talvez fosse melhor existir apenas saúde pública, de forma a não haver competição de talentos com o mercado privado.
- Sou a favor de programas como o Bolsa Família. Aliás, acho que o grande problema do Bolsa Família é que este atinge relativamente pouca gente e paga muito pouco para os que ele atinge. Se o Estado não servir nem para dar condições mínimas para todos, então qual é o ponto? Eu comentei no Twitter essa semana:
De tudo em que o governo gasta dinheiro, ajudar quem não tem é uma das boas exceções. Reclamar do Bolsa Família é errar o alvo.
— Roberto Teixeira (@robteix) July 16, 2013
Por outro lado, pela “direita” eu:
- Não tenho fé cega em políticos e/ou burocratas do serviço público. Não confio que eles saibam magicamente o que é melhor para a minha vida.
- Acho que competição é melhor que monopólios[2] e sou cético em relação aos incentivos apresentados aos funcionários públicos e por isso sou a favor da privatização de vários serviços públicos (exceções existem como, por exemplo, a já mencionada saúde pública)
- Acho que o Estado não deveria ter poder algum para regular o que eu penso e/ou digo. Sim, isso às vezes trás coisas desagradáveis, mas é um preço pequeno para os benefícios.
- Eu acredito que o Estado existe para servir ao cidadão e não vice-versa.
E no campo “social”, que muitos ligam à esquerda, mas que na verdade não sei dizer se corretamente, eu:
- Sou a favor do direito ao aborto no início da gravidez. Enquanto não houver um sistema nervoso funcional, não se pode dizer que o feto (ou o amontoado de células) seja realmente uma vida.[3]
- Sou contra a pena de morte. Aqui vale uma explicação. Eu acredito fortemente que há pessoas que não podem ser reabilitadas — assumindo que nosso sistema de prisões reabilitasse alguém —, mas mesmo assim tenho de ser contra por razões pragmáticas (não há como voltar atrás em caso de erro) e filosóficas (se nem tentarmos a reabilitação, o que isso diz de nós como espécie?)
- Sou totalmente a favor da liberação das drogas para maiores de idade. Eu não fumo e não uso drogas — sim, sou chato… também normalmente não bebo — e acho que quem usa é idiota. Dito isso, não acredito que caiba ao Estado decidir o que um adulto pode ou não fazer. O que me leva automaticamente ao próximo item.
- Sou a favor do casamento homossexual. Não cabe ao Estado discriminar.
- Sou a favor da separação absoluta do Estado e das religiões. Se você quer seguir uma crença da era do bronze, é problema seu, o Estado não deveria ser afetado por isso. No papel, já é, mas não é. Por que Edir Macedo tem passaporte diplomático? Por que pagar com dinheiro público a vinda ao Brasil do líder de uma organização privada bilionária e que nem sequer paga impostos?
E voilà. Não sei se sou de direita ou de esquerda. Acho que sou de centro.
Se você sabe se sou de direita ou esquerda ou se apenas quer discutir algo, sou @robteix no Twitter e também no App.net.
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Entre aspas, porque na realidade eu não voto desde o final dos anos 90. ↩
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Sim, isso vale para o privado também. Existem monopólios naturais (telefonia, energia elétrica, etc.) que precisam ser fortemente regulamentados. ↩
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Admito aqui que quando eu vi aquela luzinha piscando no primeiro ultrasson quando ficamos grávidos de nossa filha, minha convicção se abalou um pouco, mas é uma reação emocional, não racional. ↩